Será Que o Seu Deus É Um Demónio?
É uma das linhas mais familiares e reconfortantes da escritura: “O senhor é o meu pastor”. Mas quando você pensa sobre isso, a metáfora é perturbadora.
É verdade que um pastor cuida das suas ovelhas, mas ele também corta, mata e come-as. Será que o Deus que adoramos age totalmente com as melhores intenções, ou somos uma espécie de gado que ele usa para o seu próprio benefício?
As pessoas ocasionalmente expressam dúvidas, não sobre a existência dos deuses, mas sobre a sua beneficência. Os antigos gnósticos disseram que o verdadeiro Deus deste mundo era o Demiurgo, um ser da segunda ordem que confundiu-se com o verdadeiro Deus. O professor espiritual G.I. Gurdjieff contou uma parábola sobre um pastor preguiçoso, que se cansou de ver as suas ovelhas fugirem, então ele hipnotizou-as a acreditarem que eram homens ou leões. Depois disso elas já não fugiram, mas permaneceram de modo que ele pudesse cortar ou matá-las, como quisesse. (Mais uma vez nos deparamos com um pastor, este ainda mais explicitamente malévolo.)
Gurdjieff não diz quem é este pastor. O seu ponto principal é que o homem, no seu estado de vigília-sono, está à mercê das forças que também não têm as melhores intenções – forças que irão extrair energia dele, independentemente dos seus desejos.
Esta parábola faz parte do período inicial dos ensinamentos de Gurdjieff; mais tarde, ele sintetizou em seu magnum opus Tudo e Todos: Contos de Belzebu a seu Neto, no livro ele retratou o universo de uma forma mais benéfica. Mas há muitos outros que colocaram em dúvida os motivos dos poderes espirituais que controlam as nossas vidas.
Um dos relatos mais estranho encontra-se num livro chamado Guerra no Céu escrito por Kyle Griffith e publicado originalmente em 1988. O livro nunca foi publicado da forma convencional; Li pela primeira vez, anos atrás, quando era editor da revista esotérica Gnosis e havia um exemplar encadernado em espiral no escritório. Hoje, o livro pode ser baixado gratuitamente, aqui.
Relativamente, sabe-se muito pouco sobre Griffith. A partir das minhas fontes, suponho que ele viveu na área da Baía de San Francisco na década de 1980, época em que terminou de escrever o livro. Ele tem sido destaque numa entrevista na Internet, aqui, e há um grupo de debate dedicado às suas ideias, aqui.
De um certo ponto de vista, o livro Guerra no Céu pode parecer loucura; de outro, é estranhamente atraente. Eu li-o três vezes ao longo dos anos. Embora não esteja preparado para aceitar à letra as suas reivindicações, eu acho-as assombrosas e perturbadoras.
A visão de Griffith supostamente deriva da sua comunicação telepática com alguns espíritos, que afirmam estar associados com o Colégio Invisível. Este foi o nome de um Círculo Inglês do século XVII dedicado ao esoterismo, filosofia e a disciplina emergente da ciência; geralmente é visto como um precursor para a Royal Society.
Ao contrário dos senhores com mente científica da Grã-Bretanha, o Colégio Invisível de acordo com a visão de Griffith consiste em espíritos desencarnados que afirmam ter inspirado os movimentos Rosacruz e Maçonaria desde o início da era moderna; mais recentemente, eles estavam por trás do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos e da revolução psicodélica do mesmo período.
Todos estes movimentos foram projectados com um objectivo em mente: quebrar o controlo dos Teocratas.
Os Teocratas, na cosmologia da Guerra no Céu, são entidades astrais parasitárias que devoram as almas das pessoas que acabam de morrer. O curso normal da evolução da alma envolve reencarnações repetidas na terra. Mas essas encarnações, como bem sabemos, às vezes podem ser extremamente desagradáveis. Os Teocratas tem evitado esta opção desagradável, mantendo uma existência semiperpetual no plano astral, alimentando-se das almas que consomem. A sua estratégia é simples. Quando uma alma ingénua morre, eles cumprimentam-na no outro lado proferindo boas vindas ilusórias num falso paraíso, preenchido por figuras religiosas familiares e entes queridos. Quando a alma cai na sua armadilha, ela é devorada.
Para tornar esta visão ainda mais preocupante, Griffith (ou os seus guias do Colégio Invisível) afirmam que praticamente tudo o que nós consideramos como religião não é nada mais do que um engano Teocrático.
As etapas deste desenvolvimento religioso, como retratado na Guerra no Céu, requerem alguns exames.
A primeira etapa foi essencialmente o xamanismo.
Esta é uma forma rude e primitiva de religião – do ponto de vista dos Teocratas, mas não do nosso.
Xamanismo, nos é dito, que promove o desenvolvimento psíquico da pessoa e, como tal, é de valor limitado para os predadores Teocratas, que se beneficiam muito mais com o transe colectivo do que o culto religioso convencional produz. Como resultado, os Teocratas tiveram que aperfeiçoar e actualizar os seus métodos de controlo mental.
A religião de segundo-estágio foi um beco sem saída.
Pois envolvia sacrifício humano em grande escala. E a história mostra que as civilizações que usavam tais práticas tiveram um final rápido e ruim. A civilização Cartaginesa, a grande rival de Roma pelo domínio do Mediterrâneo, foi um exemplo.
Quando os Romanos derrotaram decisivamente os Cartagos, eles destruíram a cidade e deitaram sal na chão. O sal é tradicionalmente uma substância utilizada para a purificação e, alguns disseram que os Romanos fizeram isso para limpar a terra de todo o sacrifício humano que tinha acontecido lá.
A civilização asteca, que em muitos aspectos era superior a sua contemporânea Europeia, foi outro exemplo: mesmo com todo o seu poder, foi destruída por umas poucas centenas de aventureiros espanhóis a cavalo.
“A terceira fase da religião Teocrática”, Griffith escreve, que “envolve sacrifícios de animais em massa. Embora eles preferem as almas humanas, os espíritos Teocráticos podem alimentar-se das almas astrais de animais inferiores, até um certo ponto”.
Se fosse verdade, isso lançaria uma luz estranha, mas reveladora sobre o que tenho caracterizado neste artigo como, as religiões da Era de Áries. Eles eram tão obcecados com o sacrifício de animais – que de outra forma parece ser uma actividade inútil – porque os Teocratas desejavam essa pratica.
No entanto, Griffith acrescenta, “os tecidos astrais das almas dos animais não são muito compatíveis com as almas astrais dos Teocratas, portanto não são uma boa fonte de alimento.”
Para resolver este problema, os Teocratas inventaram a quarta fase da religião – ou seja, as religiões que a maioria das pessoas conhecem hoje.
Aqui os “Teocratas usam o controlo mental religioso para enganarem as almas a colocarem-se deliberadamente sob controlo Teocrático após a morte, acreditando que estão a entrar na ” felicidade eterna no Céu” ou na “união com a Divindade.” Estas religiões são essencialmente aquelas que no artigo eu chamei de a Era de Peixes.
Deste ponto de vista, os deuses que as pessoas adoram – quer seja chamado de Cristo, Allah ou Krishna – não passam de parasitas no plano astral que se alimentam das almas dos inocentes que eles têm como presas.
Originalmente, o Buda [Budismo] era diferente; ele experimentou um verdadeiro despertar e, assim, não demonstrou nenhum respeito pelos deuses védicos tradicionais da sua cultura. Mas os seus seguidores posteriores, os quais distorceram o seu ensino numa religião baseada na fé em Buda, tornaram-se subservientes dos Teocratas.
Oh e a propósito:
“Os Teocratas querem que os crentes sintam-se culpados toda vez que sentirem desejo sexual ou desfrutam de quaisquer “prazeres da carne”. A culpa literalmente vicia-os a participar dos cultos religiosos que os sujeita ao controlo mental religioso”.
Houve alguns retratos mais perturbadores da história religiosa da humanidade do que isso.
Para livrar os seres infelizes da raça humana desta terrível situação, certas almas avançadas de outros planetas vieram para a atmosfera astral da Terra há alguns séculos. Eles, juntamente com algumas almas iluminadas humanas que conseguiram evitar os Teocratas, constituem o Colégio Invisível.
Enquanto os Teocratas têm enviado sugestões telepáticas para os seus seguidores desinformados neste plano, dizendo que tudo o que tens a fazer é acreditar em deuses teocráticos e confiar neles, o Colégio Invisível tem transmitido a mensagem oposta: ou seja evitar a adoração e, sobretudo, pensar por si mesmo.
Eles inspiraram os movimentos Rosacruz e Maçóneria dos séculos XVII e XVIII, bem como os incentivos em direcção à democracia, liberdade de pensamento e, até mesmo o ateísmo. Afinal de contas, é melhor não acreditar em nenhum Deus do que abrir-se para uma divindade astral parasitária.
De acordo com Griffith, grande parte da contracultura dos anos 1960 foi estimulada pelo Colégio Invisível. LSD, concertos de rock e encontros semelhantes, foram projectados para criar um tipo diferente de transe – que abriria telepaticamente as pessoas para a ideia que elas devem pensar por si mesmas.
Mas a história não pára por aí. Este esforço provocou uma reacção da parte do adversário – a “quinta-fase da Teocracia”, a qual “usa o controlo mental electrónico em vez do controlo mental religioso e … pode escravizar as pessoas que aderem a sistemas de crenças que não seja a religião organizada”.
Alguns grupos originalmente inspirados pelo Colégio Invisível foram recrutados pelo adversário. Griffith escreve:
“Cada novo grupo de rock começa com alguns protestos ou simples musicas de amor. Em seguida, são engolidos por uma mente de grupo controlado pela quinta-fase da Teocracia e, a partir desse ponto todas as suas músicas parecem como se tivessem sido escritas pela mesma pessoa.”
É impossível continuar a falar neste artigo, sobre a estranha mas fascinante visão de Griffith. Mas existem algumas coisas que me impedem de descartá-la completamente.
A primeira é a loucura colectiva da raça humana – o seu desejo patológico de raiva e destruição, o ódio pelos seus benfeitores e a sua adoração insana pelos seus agressores mais cruéis.
Há um ponto além do qual não podemos explicar isso como uma simples agressão de mamíferos – que, na verdade, não vemos essas propriedades destrutivas em outros mamíferos. A psicologia e a sociologia não têm explicações para essa insanidade em massa e mostram pouco interesse em encontrá-las. Se houvesse tais entidades no plano astral tentando controlar e manipular-nos como afirma Griffith, pelo menos este comportamento seria compreensível.
O outro, é a poderosa vontade colectiva em direcção ao que Gurdjieff chamou de “vigília-sono” do homem. É verdade que, no Ocidente, de qualquer modo, a hipnose em massa pela religião de baixo grau está a perder o seu fascínio. Mas isto não aconteceu tão rápido quanto o surgimento de uma nova série de mecanismos para colocar as pessoas de volta a dormir – o “controlo mental electrónico” que Griffith menciona. É muito difícil ir num lugar público e não ver as pessoas enfeitiçadas pelos seus laptops e smartphones, sem saber se algo do género está a acontecer.
Não acredito que [o livro] Guerra no Céu ofereça uma explicação total para a condição humana, mas suspeito que tenha alguma verdade. Parece que existem forças invisíveis que, por razões que são difíceis de determinar, beneficiam do transe acordado colectivo da humanidade.
Griffith conclui o seu trabalho com uma visão quase apocalíptica do fim dos tempos. É muito semelhante ao Fim dos Tempos como retratado pelo cristianismo que tenho dificuldade em aceitar de ânimo leve tal informação. E, embora suspeite que existem entidades espirituais de baixo grau que se parecem aos Teocratas que foram aqui descritos, no entanto não estou tão convencido que eles explicam tudo sobre a aspiração religiosa humana.
Em todo o caso, Griffith e os seus mentores invisíveis tem alguns conselhos de como evitar o controlo Teocrático.
Em primeiro lugar, fazer um esforço consciente para desenvolver os seus próprios poderes psíquicos durante esta vida.
Em segundo lugar, “ler relatos de experiências de quase morte e aprender a reconhecer os truques comuns que os Teocratas usam para escravizar os menos atentos após a morte.”
Em outras palavras, esses relatos de experiências de quase-morte são verdadeiros – mas eles não estão a receber o devido reconhecimento. Isso provavelmente parece ser uma regra geral para todas as experiências espirituais – não importa quão bom ou ruim, eles parecem.
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