Justiça Cega Ou Cega Por Títulos? Um Conto Do Príncipe Andrew E Julian Assange

O grande e velho Duque de York dorme hoje à noite numa almofada de penas num Palácio Real. Julian Assange, o editor do século dorme no inferno da prisão de Belmarsh, a baía de Guantánamo da Grã-Bretanha.

O Duque de York mentiu sobre a duração e a natureza do seu relacionamento com o suposto traficante de sexo infantil Jeffrey Epstein. Julian Assange disse a verdade sobre os altos crimes e contravenções dos ricos e poderosos durante os tempos de guerra e paz.

O FBI precisa falar com o filho favorito da Rainha, mas nenhum poder na terra será usado para fazê-lo testemunhar sobre o que ele pode ter visto, ou até mesmo participado, na casa de Manhattan, uma Sodoma e Gomorra dos nossos tempos.

O mesmo sistema de justiça dos EUA causou o cruel encarceramento de Assange e a sua prisão kafkaesco numa saga de extradição que pode durar anos – se ele não morrer antes, dado que nada menos que 60 médicos alertaram recentemente que isso pode muito bem acontecer.

Os acordos de extradição EUA-Reino Unido podem ser o tratado mais desigual já celebrado pelos ministros de Sua Majestade. Nesse caso, o ex-secretário do governo de Blair, David Blunkett, um homem cego que, no entanto, podia ver exactamente o que estava a fazer.

Em essência, a extradição da Grã-Bretanha para os EUA tornou-se virtualmente requisitada, sem a menor necessidade de mostrar justa causa, mas não vice-versa. Seria mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que a Grã-Bretanha extraditar um cidadão Americano para enfrentar a justiça no Reino Unido.

Eu era membro do Parlamento Britânico na época em que este tratado foi assinado. Não que isso mude um jota ou um til. O Tratado foi assinado durante o recesso de verão, quando O Parlamento estava fechado e através do exercício da Prerrogativa Real.

Somente quando já estava em funcionamento fui capaz de me opor à extradição das suas primeiras vítimas – supostos mentirosos financeiros da Cidade de Londres, bem como um homem londrino “terrorista”, Babar Ahmad.

Sob as antigas regras de extradição, nenhum dos casos poderia satisfazer o requisito anterior de produzir provas prima facie suficientes para persuadir um juiz Britânico. De acordo com o novo Tratado, era fácil espremer limão. E lá foram eles.

O Príncipe Andrew não enfrentará tal provação, embora agora seja banido da Royal Circles e efetivamente reduzido às fileiras, as suas dragonas arrancadas da sua brilhante coleção de medalhas obscuras transformadas em sucatas na sua túnica.

Embora acusado de abuso sexual de uma adolescente e com uma relação íntima admitida com o suposto procurador de vítimas menores de idade, Ghislaine Maxwell, e cuja casa em Londres é referida como local de um dos encontros sexuais – os EUA nunca exigirão que o príncipe dê provas e o Reino Unido nunca as oferecerão.

Assange, que foi falsamente acusado de estupro, passou praticamente a última década preso de uma forma ou de outra de encarceramento. E pode apanhar até 175 anos de prisão, se extraditado com sucesso.

É um conto de duas cidades – o Palácio de Buckingham e a Prisão de Segurança Máxima Belmarsh.

Um conto de duas pessoas – uma agora mentirosa comprovada e outra que diz a verdade.

Um conto de dois destinos. O Príncipe que se tornou um indigente moral, o outro um jornalista impecável que se tornou um gigante moral.

É uma história dos nossos tempos.

Fonte:

https://www.rt.com/op-ed/474374-prince-andrew-epstein-assange/

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